domingo, 27 de maio de 2007

Do alto da minha inquietude...

Caminho com passos firmes e decididos em direcção à quietude que persigo... Levo comigo um punhado de ilusões desfeitas e uma mão-cheia de cinzas do fogo que me esforço por extinguir. Tento libertar-me das grilhetas que me mantêm cativa, evadir-me do claustro dos sentimentos. Ouso vislumbrar a libertação da alma.
No crepúsculo do desassossego agitam-se sombras que esperam, pacientemente, o alvorecer para se devanecerem, como a folha caída, inconformada com a sua sorte, espera que sopre a brisa para ganhar força e voltar a elevar-se.

"...

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo d’oração!
-E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!”

Florbela Espanca

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