quarta-feira, 21 de maio de 2008

Em defesa da língua portuguesa

Há poucos dias, juntei a minha assinatura a outras quinze mil, numa lista encabeçada pelo Vasco Graça Moura, num manifesto-petição contra o Acordo Ortográfico. Fi-lo por convicção.
Embora não seja uma fervorosa adepta das mudanças, sou, no entanto, receptiva a elas, sempre que o benefício esperado supere o respectivo custo. Mas, não me parece que seja o caso no que respeita ao Acordo Ortográfico. Digamos que as alterações acordadas, na prática, pouco mais servirão do que para os portugueses suprimirem uns quantos “p” e outros tantos “c”, para além de nos roubarem e ou trocarem alguns acentos.
Sim, porque nós vamos continuar a chamar “autocarro” ao “ônibus” dos brasileiros e continuaremos a ler “magnata” enquanto eles preferem acrescentar-lhe um “i” imaginário e chamar-lhe “maguinata”. Nós, seguramente, vamos continuar a impor ao pronome pessoal “me” que suceda aos verbos, sendo quase certo que os brasileiros, na hora de pedir, não hesitarão em continuar a dizer “me dá”.
E os PALOP, abandonarão os seus dialectos a partir do momento em que os respectivos países estiverem formalmente vinculados ao Acordo, através do depósito do respectivo documento de ratificação, e como que por magia todos os membros da CPLP afinarão pelo mesmo diapasão?
Será que esta mescla, feita do contributo de todos os países que falam português, com todas as suas especificidades, não ajuda a enriquecer a língua portuguesa?
Se tiver mesmo que haver mudanças, será que não deveriam ser os outros países da CPLP a ajustarem-se aos portugueses na hora de escrever?
Sem querer plagiar-me a mim própria, não resisto, ainda assim, a transcrever alguns excertos de um trabalho que fiz, há umas semanas atrás, exactamente, sobre as origens da língua portuguesa, e que deixo aqui, em jeito de reflexão.
Reflictamos:
“É suposto várias línguas derivarem de uma família comum; no caso do português, do romeno, do italiano, do francês e do espanhol, claramente, derivam do latim, mas, e as outras línguas quem lhes conhece o pai ou a mãe? Mau grado a falta de registos escritos, a exemplo do que aconteceu com o latim, deixa-nos esta pergunta sem resposta.
Poderão as línguas oriundas da família românica considerar-se a nata da sociedade linguística só porque é conhecida a sua estirpe? Se calhar, podem. É isso que se infere das palavras do Autor, mais concretamente quando questiona: “Que faríamos se o latim nunca se tivesse escrito?”
Orgulhosa da minha língua, do meu português que sempre admirei e respeitei, incomoda-me muito verificar - embora aceite as mudanças como um sinal de evolução da humanidade - que, de há uns anos a esta parte, sem escrúpulos e completamente à revelia de qualquer alteração oficial, resultante de acordo ou de convenção linguísticos, se têm adoptado e introduzido no dia-a-dia da língua portuguesa novas formas de falar e de escrever que em nada a enriquecem, antes, dão-lhe um toque de vulgaridade. Refiro-me à linguagem frequentemente usada pelos cibernautas e bem assim nas mensagens por telemóvel.
(...)
Consigo imaginar a língua portuguesa como uma árvore que, em vez de ter um tronco donde saem os ramos, tem muitos ramos que, imaginariamente, caminham na direcção do tronco tornando-o robusto e auto-suficiente. O tronco robusto e auto-suficiente é a língua portuguesa e os ramos são as diversas línguas que lhe deram origem.
(...)
À data da chegada dos romanos, a Península falava, entre outras línguas, a céltica e o basco. Porém, a hegemonia romana foi ditando o desaparecimento daquelas línguas à medida que foi impondo o latim; o latim na sua forma vulgar. A chegada de outros povos, Alanos, Suevos e Godos, foi trazendo novos vocábulos que se foram misturando com o latim que a Península falava.
Ainda assim, o latim não conseguiu resistir à penetração de diversos factores como, “os costumes, as raças, os climas e outros” que acabariam por fraccioná-lo em vários dialectos. Daí a afirmação de que o português provém do latim, embora enriquecido com vocábulos de várias outras origens.
(...)
Estarei correcta se disser que o latim é o substrato da língua portuguesa? Acredito que sim, pois que os fragmentos com que as outras línguas contribuíram para o que é hoje a língua portuguesa não me parece que reúnam as características necessárias para merecerem tal classificação.
(...)
De referir que o latim de que derivam as línguas românicas, é um latim vulgar, do qual não são conhecidos registos que nos permitam ter acesso às suas características e que provinha de várias regiões do império, normalmente trazido por soldados. O latim erudito, que era falado pelos patrícios – os nobres entre os romanos -, pelo clero e pelos Homens da cultura, não era usado entres os amigos em conversas informais nem no seio das famílias.
Sem pretender retirar mérito ao povo árabe, não deixo de ficar surpreendida, após a leitura atenta do texto que serviu de base a esta pequena reflexão, ao constatar que, apesar de tantos séculos de presença na Península Ibérica, o contributo dos árabes para a língua portuguesa é muito menos significativo do que o dos romanos.
O português transporta uma grande herança do latim, que, aliás, acaba por ser a sua matriz, embora muito enriquecido com vocábulos de várias outras línguas, o que reforça a ideia que eu já tinha de que a influência romana foi, em tudo, fundamental para que os portugueses sejam o povo que hoje são.”

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Saudade

"A
saudade cresce
entre os olhos abertos por uma longa distância
sobe pelas correntes dos odores
deixados pela chuva sem estação

fatigada de tanto esperar, a saudade tenta remover
os ninhos das falésias como se a dor caísse
com a leveza dos pássaros..."

Rui Caetano, in Nos Gestos do Silêncio

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Que fazer?!?...

“Fomos ensinados desde a mais tenra infância a sermos racionais, lógicos e consistentes; a evitar os comportamentos emocionais e irracionais; a não deixar transparecer os nossos sentimentos. Ou melhor, sentimentos e emoções são considerados símbolos de estupidez, de fraqueza e aborrecimento. Pior ainda, temos medo que eles ameacem o próprio sistema da nossa sociedade civilizada.”

Shakti Gawain, in Aprenda a Viver na Luz