sábado, 2 de junho de 2007

Pelos caminhos da emoção...

Sem propriedade, mas com o direito que me é conferido enquanto ser pensante, arrisco-me a fazer uma breve incursão pelos sinuosos caminhos da emoção.
É pacífico que o ser humano tem na sua génese muito mais emoção do que razão. Ocorre-me fazer esta reflexão por verificar que, cada vez mais, se estão a generalizar as técnicas, desde as mais ancestrais às mais modernas, para controlar as emoções, numa nítida negação à partilha dos sentimentos espontâneos. Como resultado, as pessoas transformam-se em criaturas amorfas, sem alma, com um sorriso amarelo sempre pronto a disparar, exibindo uma felicidade feita por medida. Seres programados, que falam baixinho e nunca perdem a calma, que se furtam aos sentimentos, no mais puro exercício de egoísmo, iludindo-se a si próprios e aos outros de que, assim, pacificam as suas existências e as dos que os rodeiam. Não tenho dúvidas de que o controlo das emoções que promova a paz da humanidade, ajude a eliminar ódios e a acabar com as guerras, é bem-vindo e só tem que ser aplaudido, mas quando esse controlo significa recusa da partilha de sentimentos, é a clara rejeição à maior parte das características que elevaram o homem à categoria de Homo Sapiens.
Daniel Goleman afirma, no seu livro Inteligência Emocional, que:

"Fomos demasiado longe na ênfase que damos ao valor e importância do puramente racional - aquilo que o QI mede - na vida humana. Para o melhor e para o pior, a inteligência pode não ter o mínimo valor quando as emoções falam."

Na mesma obra o autor cita Erasmo de Roterdão, que numa veia satírica escreveu:

"Para que a vida humana não fosse totalmente triste e enfadonha, Júpiter concedeu-lhes muito mais paixões do que razão (...) A razão apenas consegue gritar, até enrouquecer, as leis da honestidade. É rainha de quem os homens troçam e injuriam até que, cansada, se cala e se confessa vencida."

Já Eugen Drewermann, no seu livro, A Angústia e a Culpa, refere que:

[... “bastaria” ensinar o outro a sonhar sem fingimento e a falar de si próprio com mais sinceridade, sem censura ou intervenção alheia, para o ajudar a reencontrar-se]

Diz ainda este Autor, nesta mesma obra, que:

“... há uma enorme dissociação entre uma vida pública que não é a vida própria e uma vida própria que anda à deriva fora da realidade, num mundo interior ilusório de sonhos e de anseios não vividos.”

Daqui se infere que coarctar as emoções negando os mais genuínos sentimentos é uma fuga à realidade, e fugir nunca será a solução para nenhum problema.

Um comentário:

Esmeralda disse...

..É pacífico que o ser humano tem na sua génese muito mais emoção do que razão....

concordo com a frase... mas então que emoções nós transportamos quw nem a razão as justifica!... vivemos que costa viradas uns para os outros... não usamos as emoções para escutar e sentir os outros, nem mesmo procuramos a razão por que o fazemos!
Ah, como seria tudo diferente se fosemos menos exigentes materialmente e mais espiritualmente!!!
O Amor!!!!... essa palavra tão cheia de emoções e de razões para ser sentida e vivida... o que é o Amor no Mundo real que vivemos! Horas passadas sem uma troca de olhares, sem uma pergunta com sentimento de emoções e às vezes de razão própria ... nos momentos críticos que vamos passando? ... onde está o sensibilidade que o tempo nos deixa no nosso percurso de vida?... Mas que tempo vivemos?
Sem emoções, ou recalcadas... ou escondidas para vencer a hora que segue...

Bem Otília, o AMOR, o AMOR, o que é na verdade?
O Carinho, o respeito, a verdade, o perdão, a cedência, a partilha de tudo isto e tantas outras razões e emoções... tudo seria tão saboroso e perfeito se todos se sensibilizassem na razão do AMAR!


Muitos beijinhos,
de quem te aprecia e te deseja feliz!