terça-feira, 22 de maio de 2007

No limbo da tua memória...

Daquela menina de tez trigueirinha, com uns olhos de amêndoa e duas tranças negras a esvoaçar ao vento, que transportava consigo o aroma de flores e o sabor a sal da sua ilha, enquanto acreditava em fadas e duendes e a quem o pai, carinhosamente, chamava "a minha Preta pequenina", sobra apenas um coração em farrapos num corpo de sofrimento.
Mas a vida, impiedosa, não nos permite que fiquemos a lamber a nossas próprias feridas, obriga-nos a ter espírito combativo e lutador, impõe-nos coragem. Exige de nós a força que é preciso para dizer não quando se deseja dizer sim e a determinação que faz falta para virar as costas ao que mais se ama.
Não obstante, a vida permite que guardemos, como coisa sagrada, os doces momentos que matizaram a nossa existência, sem deixar de nos torturar com flashes de memória que desejaríamos apagar para sempre.

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"Rasga esses versos que eu te fiz, ...!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
..."

Florbela Espanca

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Guarda-me no limbo da tua memória, já que não consegui conquistar uma posição na estante das tuas boas recordações e sinto que, também, não mereço um lugar no dossier do teu esquecimento.
Não te peço uma flor, uma oração, uma lágrima ou um sorriso, peço-te, apenas, que me devolvas a paz que preciso para continuar a suportar o resto do caminho que ainda me falta.

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