domingo, 29 de julho de 2007

Porto seguro

Ouve-se o ranger das amarras no ancoradouro. Foram-se esfiapando, aos poucos, e agora ameaçam quebrar-se.
Numa dança frenética a embarcação vai gemendo, ao ritmo das dores que a fazem adivinhar o seu fim. É urgente segurá-la, desviá-la do rochedo, poupá-la ao trágico destino que a tempestade lhe reserva.
Não é possível parar a tempestade, mas, ainda assim, é possível salvar a embarcação. Deslocá-la para lugar seguro, talvez outro porto de abrigo.
A mudança será penosa. Será necessário reunir todas as forças disponíveis, numa sinergia entre o querer e o poder. Não é importante perspectivar quanto tempo levará, importante é que a mudança se faça.
Urge caminhar em direcção à bonança, voltar a estar em porto seguro. Ter outra vez vontade de sorrir para a linha do horizonte, dançar com o suave balançar das ondas, deixar que a brisa lhe acaricie as velas, aconchegar-se tranquilamente aos mornos raios de sol.
E, como nada acontece por acaso, quem sabe não ganhará nova vida nos braços do ancoradouro que se estenderam para a salvar do naufrágio.

"...
Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
...”
Sophia de Mello Breyner Andresen

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